QUALIDADE DE VIDA

Pandemia, isolamento e efeitos emocionais

Vivemos uma situação inédita, traumática, de amplitude global - a pandemia causada pelo novo Coronavírus. A palavra pandemia vem do grego, “pan” e “demos”. "Pan" equivale a tudo ou todos, "demos" é o povo. Isso significa que todos os povos estão diante do mesmo acontecimento. Enfrentamos uma doença altamente contagiosa, que se espalha rapidamente entre a população do mundo. Os coronavírus que infectam seres humanos causam doença respiratória aguda, com sintomas que variam em gravidade desde um resfriado comum até uma pneumonia fatal. Nosso confronto é com uma nova versão do vírus Corona, identificada em meados de dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China, causadora da infecção chamada COVID-19.

A escalada do surto é espantosa. O novo coronavírus é muito veloz, não respeita fronteiras nem diferenças socioculturais. E é a velocidade de propagação o maior desafio ao enfrentamento dessa pandemia. O risco de uma pneumonia, que exige hospitalização em terapia intensiva, é de aproximadamente 4%. Embora não deva ser menosprezado, esse risco é relativamente baixo para um indivíduo. Contudo, a velocidade de propagação da doença é tão alta que, coletivamente, em poucos dias esse perigo resulta em milhares de pessoas precisando de unidades de terapia intensiva, o que leva o sistema de saúde ao colapso. Na falta de vacina disponível, até o momento, o único recurso que se mostrou eficiente para diminuir a velocidade de propagação da infecção é o isolamento social. Chegamos a essa condição de emergência totalmente despreparados! Além do isolamento, também precisamos lidar com incertezas e seus parceiros – o medo, a ansiedade, a angústia e o estresse.

A letalidade dessa infecção pelo COVID-19 exige atenção, é incompatível com atitudes de negação. Toda doença potencialmente fatal desperta emoções perturbadoras, que criam focos de estresse. Cada um responde a seu modo. A reação individual depende da história de vida, das características de personalidade, da conduta que diferencia uma pessoa das outras e da comunidade em que vive. Algumas atitudes refletem mecanismos de defesa incompatíveis com sofrimentos inerentes à pandemia do novo Coronavírus. A negação, por exemplo, pode estar na arrogância de quem recusa a gravidade do problema e julga que o isolamento da população é um exagero. Também pode estar na raiva que mascara o medo diante da finitude. Ainda não sabemos quanto tempo vai durar essa situação de emergência. Mas sabemos que é preciso lidar com angústias que acompanham o recolhimento na própria casa e o não saber.

São muitos os efeitos psicológicos do isolamento: frustração, tédio, perda da rotina, redução das trocas afetivas e do contato físico, medo da infecção etc. Tais preocupações referem ao temor sobre a saúde própria e dos entes queridos, bem como ao medo de contágio por outras pessoas. Nesse quadro, é preciso assumir a quota de incertezas que a realidade nos apresenta.

Pessoas extrovertidas, aquelas mais sociáveis e comunicativas, tendem a sentir maior desconforto no isolamento social. Seus interesses estão no mundo externo, nos objetos, nos fatos e nas trocas sociais. Essas características de personalidade beneficiam sua adaptação à realidade desse mundo exterior. É compreensível que extrovertidos sintam irritação e impaciência no isolamento social, associado ao aprisionamento e à reclusão. Ao contrário, o isolamento social parece beneficiar a introversão e seu interesse no mundo interior. A atenção das pessoas introvertidas é direcionada para o mundo das impressões, das emoções e dos pensamentos. Introvertidos dedicam-se aos processos internos, suscitados por fatos externos. Nesse caso, o isolamento social abre espaço para momentos de reflexão e autoconhecimento. Extroversão e introversão são movimentos da vida psíquica. Todos nós temos períodos de extroversão e introversão. Tomara que essa fase de isolamento nos permita cultivar a interioridade que ressignifica valores e sinaliza o que importa.

Marisa Moura Verdade é Mestra em Educação Ambiental, Doutora em Psicologia, especializada em Psico-Oncologia. Autora do livro Ecologia Mental da Morte. A troca simbólica da alma com a morte. (Editora Casa do Psicólogo & FAPESP). E-mail: mmverdade@gmail.com